31 outubro 2003

Um Dia

Li, um dia nos vamos encontrar
E num olhar, esquecer que o mundo existe.
Mas, até esse dia chegar
Vivo arrastando-me, vivendo sempre triste.
E se há em mim algo que resiste
É a vontade de tanto te amar.

Li, quem sabe, um dia mais tarde,
Sintas por mim verdadeiro amor.
Crescente, suave, discreto, sem alarde,
Que me salve deste meu torpor
Onde me encontro, pobre sofredor
Da forte chama que em mim por ti arde.

Li, eu disse claramente que te amava.
Tudo mostrava que eras tu quem eu queria.
Na mensagem que mandei lá se encontrava
A verdade que eu já nem sequer escondia.
Mas tu não viste o que toda a gente viu
E foi como quem uma adaga no coração me crava.

Talvez, um dia...

Requerimento

Senhor presidente
Do conselho superior
Da magistratura do amor:
Cumpre-me informar
Que Vossa Excelência
Foi bem sucedido
Na nobre incumbência
De me conquistar,
De me pôr a amar
Uma bela menina
De caracois belos
E olhos formosos.
Estou pois decidido,
Fiquei convencido.
Mas estareis a falhar
Se eu a não conquistar.
Esforçar-me-ei, pois,
Para ficarmos os dois
Juntos para sempre.
A abaixo assinado
Ora conquistado,
E tambem requerente,
Aquele que a ama,
Pedro Gama.

Braga, 22 de Março de 2003, 1:25.

Nozes

Esperamos
Conhecer

Falamos
Para saber

Olhamos
Para contar

Juntamos
Para animar

Cultivamos
A amizade

Brincamos
Para divertir

Apoiamos
Na dificuldade

Gozamos
Mas só para rir

Somos a "Gera"
Do #saladespera

Braga, 30 de Outubro de 2003.

Quinze

Quinze
Tão verdes
E tantos
Escrita forte
De quem sabe
O que quer dizer

Quinze
Tão jovem
E tão madura
Importante
E iludida
Por ainda não saber

Quinze
Tão menina
E tão mulher
Agruras por passar
Alegrias por sentir
Tanto por crescer

E, no entanto,
Tanto sente
Tanto escreve

E tão bem!

Braga, 30 de Outubro de 2003.

Som

É na música que encontro o meu refúgio
No encadear harmonioso do som
Nas notas soltas de uma canção
Nas letras e rimas encontro o meu mundo
Faço de uma música as minhas palavras
Elas dizem o que eu não consigo
Elas exprimem os meus sentimentos
Elas traduzem o que vai ca dentro
Transportam-me para o paraiso
Levam-me para onde queria estar
Explicam o que eu quero dizer
Aprofundam o meu ser
Transformam o meu existir
São o meu ar.

Braga, 30 de Outubro de 2003


Need i say more?

29 outubro 2003

Meretriz

A meretriz que dormitava
No sonho viajava.
Mas não sabia
Quem a ela via,
Através da janela,
À mulher mais bela.
Um jovem rapaz espreitava
E a ela, em sonho, amava.
Mas a meretriz acordou
E o rapaz do seu sonho despertou.
Pois o amante, pela janela, viu
E seu coração de barro se partiu.
Era a "sua" amada, ciumes sentiu.
Destroçado, de cabeça perdida,
Pouco demorou a por fim à sua vida.
E ela o não soube
Até que morreu.
Quando soube, chorou
Por amar o filho seu.

Tiles Or Tales

A tile,
Wait a while.
Other tile,
With a smile.
One more tile,
Search a file.
End of tiles,
Start the tale.

Só.
Sempre só.
À espera
Que a minha vontade dobre a tua enervante teimosia,
Que o meu humor faça nascer um sorriso nessa cara triste,
Que um dia possa dizer ao mundo que não sou só eu,
Somos eu e tu.
E nunca,
Nunca mais,
Estarei Só!

Visão

Segui!
E o mundo sentiu
A minha raiva.

Chorei!
Pois nada existe
Que eu alcançe.

Senti!
Algo faz que eu avance
Com minha voz em riste.

Parei!
Que a minha, agora alegre, alma
Tua face, para mim, sorrindo, viu.

Grito

Nada mais há para dizer.
Que não foi já dito?
Há um temor que sinto sem saber.
O mundo sufoca-me,
A alma me come,
Abafa-me da boca o grito!

África Amiga

Diz que dá
Louca!
Não vê
Nada mais que a dor.
Ignora
A ruptura,
O descalabro da terra,
Os ladrões
No seio dela.
A solidao de se ser uma
Única
E ver a sua meta
Afastar-se
Da própria razão de existir.
Passa a servir
Uns só.
Está pobre.
Está velha.
Esta sentida.
A África
(Minha) Amiga.

Ele

Vou para outro lugar,
Onde não possa cruzar
Contigo o olhar
E ver quem contigo ri,
Quem contigo é feliz,
Pois não sou eu.

Sad

Sad
As i never felt before,
She cries.
In that night of snow
She prays.
And then she goes
To a new place
Called death,
Warm instead.

26 outubro 2003

Conhecer-te

Conhecer-te
Quanto eu queria!
Não sei ainda bem porquê,
Mas sinto que a tua vida
Vale a pena conhecer.
Não conhecer o corpo
Mas a mente, só a alma.
Será que, sendo cego, conseguia
Que tu me deixasses conhecer-te?
Ou será que te faria medo
Que uma pessoa não te visse
E mais de ti soubesse que ninguem?
Ainda assim, penso que poderias
Deixar que te conhecesse.
Primeiro pouco, depois bem.
Garanto-te que não te arrependerias
Pois sei que ao conhecer-te,
E tu própria,
Ao deixares-te conhecer,
Aliviaria o teu espírito, ferido
Por causa das pessoas
Que recusaram conhecer-te.
Anda, deixa-me conhecer-te.
E, ainda que numa fração
Do efémero tempo,
Poderei dizer que conheci
A minha felicidade.

Coisas Simples

O que mais queria agora, o que mais eu desejava,
De entre todas as coisas, aquela que eu mais gostava,

Era sentir o teu perfume em meus lençois,
Sentir o calor do teu corpo junto ao meu,
Era olhar os teus olhos, quais dois sois,
Era tocar o belo rosto que é o teu.

Ver tremer os teus lábios ao murmurares meu nome,
Sentir-te calma e feliz ao estares comigo,
Ser água para a tua sede e fruta para a tua fome,
Sentir-me da tristeza o teu porto de abrigo.

São coisas simples, o que de ti desejo,
Nenhuma delas é coisa de maior,
Mas toda a noite me vejo ao espelho,
Sozinho e triste, sem ti em meu redor.

Será que um dia me perfumarás a vida?

Braga, 16 de Outubro de 2003, 3:46

Ao Poeta Andrade

Às vestais águas,
Ao fogo violento,
Cantaste, Eugénio,
Em farta catadupa

Fruta madura,
Suave impropério,
Distante alento,
Elevadas magoas,

Palavras doces,
Infinitas imagens,
De sonho apaixonado.

Eis o riquissimo legado,
Espraiado nas margens,
Que ao mundo deixastes.

Obrigado, Eugénio.

Confissão

Revela-me
Os teus medos profundos,
Que te fazem sentir insegura.

Confia-me
Os segredos mais amargos,
Que te fazem sentir magoada.

Conta-me
As vidas já esquecidas,
Que passaram na tua vida.

Recorda-me
O quanto choraste,
Pelas palavras que não ouviste.

Para depois poder dizer-te
Que a esperança ainda existe.
E, ainda que não te baste,
Se outro te não ama,
Amo-te eu.

Guarda, 14 de Julho de 1994, 6:30.

Ambos

Quando deixares
Cair as barreiras
Que prendem
As emoções
Que sentes
E disseres
O que escondes
Debaixo
Do teu medo,
Verás
Que elas
Não te mentem,
Descobres
De todos
Os corações
O segredo.
Do teu,
Do meu.
Percebes
O porquê
De não saberes
Se queremos
Embarcar
Nesta loucura.
Percebes,
Ainda assim,
Que ambos
Precisamos
De sentir
Carinho,
Compreensão,
Muita ternura.
Num último
Esforço
Ainda entendes
Que é por
Sofrermos
No passado
Tanta dor
Que agora
Aquilo
Por que ambos
Ansiamos
É amor.

Estranho

É estranho ver-te como um espelho
Daquilo que sou eu, mas de outra forma,
Ambos diferentes de todos aqueles
Que se dizem da juventude a norma.

Estranho ainda o surgir do desejo,
Inesperada e súbita chegada,
Mas a vida é fértil de surpresas
E num segundo, tudo cria do nada.

Tantas vezes nos olhámos nos olhos,
Em doces brincadeiras inocentes,
Sem dar conta de escondidas emoções
Que agora se tornam tao prementes.

Não sei se na verdade escutaste,
Não sei se disse o que devia,
Espero só que nao fiques magoada
E que a felicidade a ambos sorria.

Agora que tanto aconteceu,
Num instante, da noite para o dia,
O futuro dirá se a pena valeu.
Senão, fica a lembrança, a melancolia.

25 outubro 2003

Voltarei a Lisboa

Bebo as palavras sentidas pela cidade
Roubando ao autor o sentimento
Pois meu o fiz, e na verdade
Sem inundar a consciência de tormento

E se já tinha da metrópole o fascínio
Maior ficou, cimentado pela prosa
Tal a vontade de correr esse caminho
Que me levará a urbe tão formosa

Findo que está o dia passageiro
A sua vez, apago todas as velas
E durmo, mergulhando
Em sons de chuva a bater-me nas janelas.

Vinhais, 4 de Março de 1999, 2:40

22 outubro 2003

Bela Tunante

Oh bela tunante,
Vou-te cantar
Num breve instante

Com meu bandolim
Vou-te mostrar
O que és para mim.

Ao ver-te à janela
Me apercebi
Que és a flor mais bela

E hoje, como antes,
Oh bela tunante,
Eu gosto de ti.


Cabelo castanho, de mel o olhar
À tua beleza venho murmurar.
O sinal no rosto, o trato gentil
A boca pequena, sorriso infantil.

Um sorriso apenas, e eu subo aos ceus
Sempre esperando os doces beijos teus
E no som dos teus labios me deixo embalar
Sempre neles pensando, à luz do luar.

Oh bela tunante, que me tens encantado
Em teu doce sorriso estou aprisionado
Mas estas cadeias, a que agora me rendo
Não quero que quebrem, mesmo podendo

Pois só elas me trazem a tua lembrança
E, mesmo doendo, me enchem de esperança
Que num murmurar, num breve instante
Me libertes num beijo, oh bela tunante.

Leitura

Li, um dia, que o amor era profundo
Confuso e turbulento como o mundo

Li, na altura, que o amor era triste
Quando se ama e só tristeza existe

Li, assim, que o amor é dor
Que fere e doi, tão-só por ser amor

Li, ainda, que o amor nos mata
E que, ao amor, nada há que o combata

E, depois do que ontem senti,
Mais acredito agora no que li.

Aurora

Sonhava acordado
Contigo, amor meu
A lua apareceu
Iluminando o ceu
E o sonho findou

Mas esse luar
Trouxe inspiração
E eu fiz esta canção
Suave como a noite
Como o beijo que te dou

Amores de estudante
Não são de um instante
São para a vida toda
Não são como a noite
Começa ao entardecer
Acaba na aurora

Tu não me quiseste
E desde esse momento
Vivo num tormento
Pois meu coração
Para sempre te dei


E ao chegar a hora
De o mundo deixar
A ti recordarei
E quando partir
Partirei a chorar

Verdes Olhos

Verde de esperança
Que vejas em mim
O caminho a seguir.
De anseio e vontade
Que digas que sim
Que estas a sentir
Que queres estar
Comigo ao luar
Que terás saudade
De me voltares a olhar
Com teus verdes olhos

À Chuva

Chove
E as gotas que se sucedem a meus olhos
Fazem-me pensar nas horas que passei
Mergulhado em teu corpo esguio
Sentindo a maciez acetinada da tua pele
As minhas frias mãos arrepiam-te
Sinto os teus labios quentes
E respondo com fervor igual.
De repente, o sol volta a brilhar
E desperta-me do meu sonho
Um maldito arco-í­ris
Baila à minha frente
Mas mostra-se-me outro mundo
E renasço para o presente
Onde voltarei a encontrar-te
À chuva